Juann Acosta e seus Projetos Diversificados
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Por Brenda Fernández
Artista Juann Acosta Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado |
“Las ciudades son como las mujeres Esas ciudades de las que te namoras Y son el amor de tu vida Y no soy excesivamente monógamo Porque pienso que se puedes tener muchas ciudades Que se aman al mismo tiempo”.
Assim como as cidades, citadas na poesia acima, a arte presente na vida de Juann é excessiva e constante. Idealizador do EP Inverno I, do projeto Outras Rimas presente na rede social, e participante da banda Plástico Vintage, Acosta nos conta como começou a sua relação com a arte, retrata a ascensão do mercado artístico e como concilia três projetos.
Primeiros contatos com a música:
O meu primeiro contato com a música foi aos seis anos de idade quando, pela primeira vez, ouvi um disco de rock. Aos dez anos, comecei a tocar um instrumento e, logo depois, ao ver que estava tendo facilidade, comecei a compor. Isso com catorze anos.
Sobre o contato com a literatura:
A literatura veio, sobretudo, por causa da minha graduação em Letras, mas essa vontade de escrever e o fato de gostar, poeticamente falando, vieram depois, embora eu ache que não dá pra separar a música da poesia, pois há uma comunicação entre elas. Depois fui descobrindo outras coisas como, por exemplo, o gosto por trabalhar com vídeos misturando de tudo um pouco. No início, encontrei algumas dificuldades em tirar os projetos da gaveta. Acredito que, com o tempo, vamos vendo se é uma coisa vital para nós, sobretudo, o lance de compor, criar. Se eu não faço com certa periodicidade eu piro, é um pouco por aí. Bukowski diz que vamos nos tornar artistas quando percebermos que a nossa arte é essencial na vida. Comecei a me apaixonar pelo que faço quando pensei que podia surgir algo bacana. É um pouco terapêutico, a arte é exorcismo também.
Juann Acosta Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado |
Eu, como poeta, não tenho essa coisa de “eu sou um escritor” que vende livros. O que eu faço é posto no meu canal de vídeo no youtube. Nele, eu trabalho com poesia que traduzo ou poeta que eu acho legal, isso é chamado de vídeo poesia. No EP Inverno I – também é usado um material de vídeo, que intercala cada música com poema. Esse sim, além de ter um trabalho musical, é um trabalho poético.
Vídeo-poemas:
O vídeo poema é uma coisa que está acontecendo. Não acho que seja uma tendência, mas a poesia e a melodia estão interligadas. É uma maneira de experimentar. O próprio Paulo Leminski fala dessa mistura, pois viu seus poemas em vídeo texto. Mas, ficava nessa:
- Tá, como vou voltar para o papel agora?!
Escritor Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado |
Antes desse EP eu tinha um projeto chamado “Plástico Vintage”. Eles são totalmente opostos, por que ali é uma busca de uma hipnose sonora. As palavras são como um arranjo a mais dentro da música, o foco não é o que está sendo dito. O que está sendo dito te sugere entrar num transe sonoro.
Não quero que as pessoas fiquem presas no que eu estou dizendo, mas sim que elas viajem no transe sonoro. E na questão do vídeo poema do meu projeto chamado “Outras Rimas” a ideia é justamente que tenha som e imagens para mexer com o imaginário, e dizer para pessoas voltarem a ler, que voltem para a escrita e para o papel.
Parcerias no projeto "Outras Rimas":
Não tenho muitos convidados, é um projeto bem intimista. Conta com a ajuda da Laura Pujol, uma amiga que fez já dois contos (um deles foi Anaïs Nin), e da Cecília Mereirles, gosto muito dela como recitadora de poesia. Laura trabalhava com a galera do "Cabaré do Verbo", então ela tem todo o pique de leitura de poesia e harmonização.
Gestos Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado |
O Plástico demorou muito tempo para ser feito. Eu comecei a gravá-lo em 2005 e contou com dezessete músicas, das quais restaram umas cinco ou seis. E demoraram uns quatro anos para decidir se era “isso e pronto”. Gastei muito tempo e tive todo o cuidado do mundo para fazer um EP legal e refinado. Valeu muito ter demorado tanto, o resultado ficou positivo. Há várias músicas que ficaram guardadas, e quando nasceu o Plástico era uma coisa minha, e hoje tem uma banda acompanhando.
Influências:
Sou baixista da banda do Plato, "Plato Divorak & Os Exciters". O Plato foi um dos caras que provavelmente me encaminhou para o lance da poesia e que me mostrou vários autores e musicais legais. Ele é um grande compositor do rock gaúcho e um poeta. Não tem internet e tem um acervo cultural na cabeça que é gigantesco. Com ele, estou lançando um vinil que está em processo de finalização, vai ser um compacto que terá quatro músicas e um selo de Portugal.
O músico, escritor e a arte de se diversificar:
O artista em si tem que se diversificar. E o músico, sobretudo, tem que conciliar isso, por que ele está trabalhando numa área que já não tem a parte física. O escritor ainda tem esse apego fundamental da sua obra física, o livro de papel. Aos poucos, a leitura digital vem avançando, mas não vai pegar da maneira que foi com a música, pois a indústria fonográfica está no processo de transição, o vinil retornando, o CD já não se sabe bem a serventia e o músico sente a necessidade de fazer outras coisas junto. Hoje é meio que cada um por si, até as rádios também estão mudando. Elas estão indo para a web também. O instinto humano de criar e absorver criatividade não vai morrer, é nisso que o artista tem que se ligar, apesar das plataformas estarem mudando.
Decoração da cafeteria Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado |
A plataforma de comunicação no Youtube é menos cruel do que o Facebook. Nesse último está aglomerado todo o mundo e tem muita manipulação de informação, as pessoas têm que saber disso, que existe um monitoramento, que o Facebook não vai te policiar, que as pessoas vão ver as coisas que tu posta. Eu, particularmente não invisto em post patrocinado, no “Plástico” houve alguns e em “Outras Rimas” eu tento não fazer. Tem que achar um jeito de divulgar o teu trabalho. Eu tento entrar em contato com pessoas do mesmo ramo, que gostam do tema que é retratado. Por exemplo, para o “Outras Rimas”, entro em contato com os administradores das páginas dos autores para divulgarem nas suas respectivas páginas. Eles geram certo poder de mídias. O artista tem que saber procurar o lugar onde vai largar a arte dele.
Um artista “híbrido”:
Não sei se falta alguma coisa que eu não fiz no sentido de arte. Pensei um tempo no teatro, em ser um ator engraçadinho, mas não sei o que falta fazer artisticamente. Eu tenho feito tanta coisa e, embora não tenha um foco específico, não acho certo ficar insistindo em fazer uma coisa só. Faço o que sinto vontade de fazer, isso é o mais importante. Não quero ter um vídeo que virtualize no Youtube, ser um cara conhecido, ter uma ascendência rápida e depois uma queda vertiginosa, inevitável. A trajetória de descobrir, fazer o processo é o mais legal. Enquanto a chama não apagar eu vou continuar fazendo pelo prazer de não fazer o óbvio, o que se espera. Não faço o que realmente as pessoas querem ver, isso não me satisfaz. Prefiro trazer outras coisas, buscar outra perspectiva, outro olhar das coisas e, talvez o hibridismo, que é uma coisa contemporânea de misturar as artes, seja o que eu venha a trazer no que faço.
Conheça mais sobre o trabalho desse artista:
Inverno I | Plástico Vintage | Outras Rimas
Vídeo de chamada para a entrevista:
Juann Acosta no Projeto Fragmentado
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