Juann Acosta e seus Projetos Diversificados

12:56

Por Brenda Fernández
Artista Juann Acosta
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado



“Las ciudades son como las mujeres Esas ciudades de las que te namoras Y son el amor de tu vida Y no soy excesivamente monógamo Porque pienso que se puedes tener muchas ciudades Que se aman al mismo tiempo”.


É com essas linhas que o jovem artista gaúcho apresenta o seu recém trabalho concluso nominado “Inverno I”. Mas não é apenas no seu primeiro EP que Juann Acosta nos apresenta um projeto alternativo, misturando poesia, música e avançados recursos visuais.
Assim como as cidades, citadas na poesia acima, a arte presente na vida de Juann é excessiva e constante. Idealizador do EP Inverno I, do projeto Outras Rimas presente na rede social, e participante da banda Plástico Vintage, Acosta nos conta como começou a sua relação com a arte, retrata a ascensão do mercado artístico e como concilia três projetos.

Primeiros contatos com a música:
O meu primeiro contato com a música foi aos seis anos de idade quando, pela primeira vez, ouvi um disco de rock. Aos dez anos, comecei a tocar um instrumento e, logo depois, ao ver que estava tendo facilidade, comecei a compor. Isso com catorze anos.

Sobre o contato com a literatura:
A literatura veio, sobretudo, por causa da minha graduação em Letras, mas essa vontade de escrever e o fato de gostar, poeticamente falando, vieram depois, embora eu ache que não dá pra separar a música da poesia, pois há uma comunicação entre elas. Depois fui descobrindo outras coisas como, por exemplo, o gosto por trabalhar com vídeos misturando de tudo um pouco. No início, encontrei algumas dificuldades em tirar os projetos da gaveta. Acredito que, com o tempo, vamos vendo se é uma coisa vital para nós, sobretudo, o lance de compor, criar. Se eu não faço com certa periodicidade eu piro, é um pouco por aí. Bukowski diz que vamos nos tornar artistas quando percebermos que a nossa arte é essencial na vida. Comecei a me apaixonar pelo que faço quando pensei que podia surgir algo bacana. É um pouco terapêutico, a arte é exorcismo também.

Juann Acosta
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
O poeta:
Eu, como poeta, não tenho essa coisa de “eu sou um escritor” que vende livros. O que eu faço é posto no meu canal de vídeo no youtube. Nele, eu trabalho com poesia que traduzo ou poeta que eu acho legal, isso é chamado de vídeo poesia. No EP Inverno I – também é usado um material de vídeo, que intercala cada música com poema. Esse sim, além de ter um trabalho musical, é um trabalho poético.

 Vídeo-poemas:
O vídeo poema é uma coisa que está acontecendo. Não acho que seja uma tendência, mas a poesia e a melodia estão interligadas. É uma maneira de experimentar. O próprio Paulo Leminski fala dessa mistura, pois viu seus poemas em vídeo texto. Mas, ficava nessa:
- Tá, como vou voltar para o papel agora?!
Escritor
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
E no Inverno I era uma fusão, era juntar tudo o que se estava fazendo; não para ser um artista de vanguarda ou fazer uma coisa que ninguém fez antes, mas para jogar tudo o que eu estava fazendo. Trabalhar com vídeo, poesia e com a música. A intenção era juntar tudo numa coisa só. As pessoas que deram uma palavra final acharam que seria uma coisa bem mais artística em relação às outras coisas que eu tinha feito. Esse era o meu grande receio, de dar mais verbo para tua música, no sentido de refinar, e isso pode cortar o clima da música.
Antes desse EP eu tinha um projeto chamado “Plástico Vintage”. Eles são totalmente opostos, por que ali é uma busca de uma hipnose sonora. As palavras são como um arranjo a mais dentro da música, o foco não é o que está sendo dito. O que está sendo dito te sugere entrar num transe sonoro.
Não quero que as pessoas fiquem presas no que eu estou dizendo, mas sim que elas viajem no transe sonoro. E na questão do vídeo poema do meu projeto chamado “Outras Rimas” a ideia é justamente que tenha som e imagens para mexer com o imaginário, e dizer para pessoas voltarem a ler, que voltem para a escrita e para o papel.

Parcerias no projeto "Outras Rimas":
Não tenho muitos convidados, é um projeto bem intimista. Conta com a ajuda da Laura Pujol, uma amiga que fez já dois contos (um deles foi Anaïs Nin), e da Cecília Mereirles, gosto muito dela como recitadora de poesia. Laura trabalhava com a galera do "Cabaré do Verbo", então ela tem todo o pique de leitura de poesia e harmonização.

Gestos
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
Primeiro EP:
O Plástico demorou muito tempo para ser feito. Eu comecei a gravá-lo em 2005 e contou com dezessete músicas, das quais restaram umas cinco ou seis. E demoraram uns quatro anos para decidir se era “isso e pronto”. Gastei muito tempo e tive todo o cuidado do mundo para fazer um EP legal e refinado. Valeu muito ter demorado tanto, o resultado ficou positivo. Há várias músicas que ficaram guardadas, e quando nasceu o Plástico era uma coisa minha, e hoje tem uma banda acompanhando.

Influências:
Sou baixista da banda do Plato, "Plato Divorak & Os Exciters". O Plato foi um dos caras que provavelmente me encaminhou para o lance da poesia e que me mostrou vários autores e musicais legais. Ele é um grande compositor do rock gaúcho e um poeta. Não tem internet e tem um acervo cultural na cabeça que é gigantesco. Com ele, estou lançando um vinil que está em processo de finalização, vai ser um compacto que terá quatro músicas e um selo de Portugal.

O músico, escritor e a arte de se diversificar:
O artista em si tem que se diversificar. E o músico, sobretudo, tem que conciliar isso, por que ele está trabalhando numa área que já não tem a parte física. O escritor ainda tem esse apego fundamental da sua obra física, o livro de papel. Aos poucos, a leitura digital vem avançando, mas não vai pegar da maneira que foi com a música, pois a indústria fonográfica está no processo de transição, o vinil retornando, o CD já não se sabe bem a serventia e o músico sente a necessidade de fazer outras coisas junto. Hoje é meio que cada um por si, até as rádios também estão mudando. Elas estão indo para a web também. O instinto humano de criar e absorver criatividade não vai morrer, é nisso que o artista tem que se ligar, apesar das plataformas estarem mudando.

Decoração da cafeteria
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
Plataformas para largar a arte:
A plataforma de comunicação no Youtube é menos cruel do que o Facebook. Nesse último está aglomerado todo o mundo e tem muita manipulação de informação, as pessoas têm que saber disso, que existe um monitoramento, que o Facebook não vai te policiar, que as pessoas vão ver as coisas que tu posta. Eu, particularmente não invisto em post patrocinado, no “Plástico” houve alguns e em “Outras Rimas” eu tento não fazer. Tem que achar um jeito de divulgar o teu trabalho. Eu tento entrar em contato com pessoas do mesmo ramo, que gostam do tema que é retratado. Por exemplo, para o “Outras Rimas”, entro em contato com os administradores das páginas dos autores para divulgarem nas suas respectivas páginas. Eles geram certo poder de mídias. O artista tem que saber procurar o lugar onde vai largar a arte dele.

Um artista “híbrido”:
Não sei se falta alguma coisa que eu não fiz no sentido de arte. Pensei um tempo no teatro, em ser um ator engraçadinho, mas não sei o que falta fazer artisticamente. Eu tenho feito tanta coisa e, embora não tenha um foco específico, não acho certo ficar insistindo em fazer uma coisa só. Faço o que sinto vontade de fazer, isso é o mais importante. Não quero ter um vídeo que virtualize no Youtube, ser um cara conhecido, ter uma ascendência rápida e depois uma queda vertiginosa, inevitável. A trajetória de descobrir, fazer o processo é o mais legal. Enquanto a chama não apagar eu vou continuar fazendo pelo prazer de não fazer o óbvio, o que se espera. Não faço o que realmente as pessoas querem ver, isso não me satisfaz. Prefiro trazer outras coisas, buscar outra perspectiva, outro olhar das coisas e, talvez o hibridismo, que é uma coisa contemporânea de misturar as artes, seja o que eu venha a trazer no que faço.

Conheça mais sobre o trabalho desse artista:
Inverno I | Plástico Vintage | Outras Rimas

Vídeo de chamada para a entrevista:
Juann Acosta no Projeto Fragmentado


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