Conheça o projeto "Old Yellow Bird"

13:23

Por Rayana Garay
 Old Yellow Bird
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado

A movimentada Cidade Baixa, em Porto Alegre, especialmente nos bares, é local de encontro de diversas artes e pessoas de estilos diferentes. Para muitos, a fonte de sustento está na mais simples barracas artesanais até aqueles que oferecem de mesa em mesa a sua arte. Para o casal Elvis Benedetti e Suelen Melo, a arte já foi uma maneira de sustento, por pelo menos dois meses. O projeto chmado “Old Yellow Bird” foi criado com intuito de mostrar a essência que o casal produz artisticamente.

O projeto surgiu quando Elvis (poeta e formado em História) e Suelen (estudante e apaixonada por arte), começaram a vender artigos de artesanato como pulseiras e colares, para juntar dinheiro. Porém, o casal não achava correto o que estavam fazendo, por que não produziam, eles apenas vendiam. Mostrar a essência deles era o objetivo. Vender objetos que fossem confeccionados por eles mesmos. Foi isso que ocorreu, Elvis pensou na possibilidade de oferecer as suas poesias por qualquer quantia. “Se o cara achar que ele tem que me dar cinco centavos, ótimo” afirma Elvis e complementa “Ou se preferir me dar cem, excelente.” Benedetti queria na verdade que as pessoas gostassem do seu trabalho mostrando assim a sua origem, e sua parceira Suelen queria mostrar a sua parte, fazer o mesmo, ajudando nesse futuro projeto. “Queria vender coisas feitas pelas minhas mãos, e mostrar o que eu produzo” enfatiza Melo.

O Princípio

O livro “500 Coisas que Você Deve Saber” dos autores Derek Fagerstrom, Lauren Smith e The Show Me Team, foi presente de Elvis para a sua namorada Suelen, que serviu como uma das fontes de inspiração para a elaboração de sua arte. O tema do livro trata de como produzir diversas coisas e, entre elas, ensina “Como Fazer uma Carteira com Baralhos de Cartas”.
Suelen Melo
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
A possibilidade dessa criação fez com que a estudante pensasse em oferecê-las nas ruas, porém, as tentativas de produção não foram muito positivas. Ainda pensando em como oferecer esse produto, Suelen lembrou das suas irmãs pequenas que consomem muito leite, e esse lixo poderia ser reciclado. “Reaproveitei, pois era o lixo que estava fazendo muito volume”, afirma a estudante. A caixa de leite tem o material resistente, impermeável, e muito utilizado no artesanato. Suelen adaptou o que já tinha visto, de pessoas produzindo carteiras feitas de caixinhas, com os ensinamentos do livro. Surgindo então, as carteirinhas feitas de caixas de leites com material reciclável, como recortes de revistas.

Os primeiros obstáculos:
Marcadores de páginas
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
Depois do processo de ideias e de criação, começaram os primeiros problemas do uso desse material reaproveitado. Um deles era a dificuldade de reunir tantas caixas para a realização do material.
Nessa época, por volta de janeiro deste ano, eles estavam desempregados e então tinham que sair todos os dias para oferecer a sua arte.  As soluções para diversificar os materiais foram, por exemplo, caixa de pizza, de sapato, pomarola. E para decoração, imagens de embalagem, jornal, encarte de supermercado. A ideia começou a dar muito certo. Após o surgimento dos marcadores de páginas, as confecções do casal ficaram mais conhecidas. A galera se encantou com as poesias de Elvis, que começaram a ser reconhecida. A partir disso, a arte do casal começou a ganhar novos rumos com a “Poesia de rua”. “Mais pessoas gostaram da ideia de incentivo à leitura e a produção literária”, destaca o casal com o sorriso no rosto. Mais tarde, os caderninhos feitos das mesmas estampas das carteirinhas surgiram. “As estampas que vocês usam para as carteiras são tão legais, vocês não tem cadernos e nem cadernetas?”, retratam a especulações do público. Depois de ouvirem tantos questionamentos vindo do público, novos produtos começaram a ser produzidos e comercializados.

Quanto vale a arte?

Um dos pontos que os diferencia dos demais projetos artesanais está no fato de não enxergarem as pessoas como clientes, pois eles não vendem seu material com um preço fixo, apenas oferecem as suas artes. É uma forma de sustento para o casal, porém, mesmo precisando, o valor sugerido por eles é de apenas R$ 5,00 referente à mão de obra, pelas confecções, pelo tempo de elaboração e as ideias. “Carteira produzida através de caixinha de leite e recorte de revista, não pode custar mais de trinta reais”, palpita o casal.
Processo de finalização dos carderninhos
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
As pessoas questionam por não cobrarem mais pelo que eles produzem, mas para o casal não é correto ultrapassar do valor sugerido, levando em consideração que o trabalho artesanal requer tempo.

Para eles é um prazer produzir, criar, mas assim como todos nós, eles precisam de “grana” para manter o “Old Yellow Bird”. Dentre outras, a vantagem de adquirir um produto dessa linha, é ter umas peças originais, diferenciadas do que vemos nas lojas, além de ajudar à natureza.
Vivemos numa sociedade capitalista, e qualquer ajuda é válida. “Se as pessoas oferecessem arroz, feijão e carne para a gente, isso seria ótimo também. Daí, eu nem precisaria fazer rancho”.(Risos). Suelen lembra que uma vez ganhou frutas e doces como troca de seus produtos.  “Já ganhei bergamotas na Redenção, e outra vez no Tutti ganhei Nutella Vegana do pessoal do Projeto Mamãe Natureza”.

Objetivo

A ideia é criar com os materiais que eles tem ao alcance.Vieram alguns questionamentos referentes por que não colocaram fotos de bandas conhecidas, como o dos The Beatles, mas eles explicam: “Colocar fotos de bandas irá vender muito mais, entretanto, não é isso que a gente quer”. O principal objetivo é mostrar sua própria arte.
Cesta utilizada para levar a arte do casal
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado

Propósito

Quando o casal sai para oferecer os produtos nas ruas, dificilmente voltam com os caderninhos. A explicação disso é que todo mundo escreve, seja para anotar números, escrever poesias, textos e até a lista de supermercado. Foi então que a “Poesia de rua” tornou-se um incentivo à produção literária, com o apoio das pessoas e com palavras gratificantes, voltadas para o casal.
“É uma honra mostrar as poesias e as pessoas lerem na tua frente. Ainda falarem:
- Bah! Meu, continua assim. Continua com o projeto. É prazeroso ouvir isso”, conta Elvis radiante.
Elvis nos contou que uma vez estava trabalhando numa loja e na hora de pagar o cliente tirou a carteirinha que ele e sua namorada, Suelen, produziram. (Imagina só a surpresa). Ao perguntar para o cliente onde ele tinha conseguido a carteirinha, Elvis teve outra surpresa, o cliente contou que ganhou de um amigo e explicou que era um produto reciclável e muito bacana. “Eu mostrei a minha carteira para ele, e disse que quem cria era eu e a minha namorada”, conta Elvis. O cliente todo contente, parabeniza pela a iniciativa e pelo o projeto.

Elvis finalizando os envelopes, onde
ficarão as suas poesias
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
‘Razão do Ser’

O formato que o Elvis segue é a mesmo que o poeta Paulo Leminski seguia com o movimento da Poesia Marginal. Foi um movimento que teve a quebra do formato da poesia tradicional. Então, as poesias dificilmente terão estrofes e muitas das vezes elas nem rimam. Isso expressa ainda mais o que o poeta está sentindo. Quem escreve é considerado poeta marginal; poesia marginal ou poesia maldita, que trata de temas mais vulgares e menos comentados. Exemplo disso é que contêm temas tratando de sexo, drogas, a vida. “Perde o encanto das poesias ‘bonitinha’ de Dom Casmurro”, explica Benedetti. O casal só conheceu esse movimento quando participaram de uma oficina, na Casa de Cultura Mário Quintana, que os autores levavam justamente as poesias para fora dos livros, indo nos bares, faculdades e para as ruas. Então foi aí que o casal se identificou com o movimento, pois era o que eles faziam. “A poesia marginal casa-se exatamente com o projeto, por que a gente está à margem. Na mesa do bar, na calçada, oferecendo a nossa arte”, completa Suelen Melo.

Onde encontrá-los



Caminho para a movimentada  Cidade Baixa
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
O casal geralmente está nos lugares públicos, em bares da Cidade Baixa como o Tapas, Porto Carioca, e ainda comentam, que os donos dos bares são super queridos e apoiam o projeto. Podem encontrá-los nos domingos na Redenção, conectados nas redes sociais, e também no Tutti, onde costumam frequentar. No Tutti há uma reunião de pessoas envolvidas com a arte, e o casal acrescenta: “Ganhamos uma grande recepção pelo o público de lá, todo mundo gosta nosso trabalho”, afirmam também, que palavras de incentivo que recebem, é muito importante, pois, todos estão pela mesma causa. 

Primeira camiseta para o futuro projeto
dentro do "Old Yellow Bird"
Foto: Rayana Garay/ProjetoFragmentado
Adiante

A pretensão do casal é montar a própria loja e ter a sua marca. Afirmam que levará um tempo, entretanto, nos deixam com a certeza que isso está para acontecer.
 “Estamos elaborando alguns projetos com o lance das camisetas. Vamos precisar de ‘grana’ por que é mais elaborada, e futuramente já iremos colocar em pratica”. Infelizmente eles não podem sobreviver de sua arte, e por isso eles procuraram outras atividades paralelas para poder se manter. É a explicação por terem pouco tempo na elaboração do projeto, entretanto, fazem de tudo para manter o “Old Yellow Bird” em pé.


Projeto Old Yellow Bird na Internet:

FanpageChamada

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